Princípios éticos para o uso da inteligência artificial

A Igreja Adventista do Sétimo Dia na Divisão Sul-Americana reconhece que a inteligência artificial (IA) está desempenhando um papel cada vez mais significativo em diversas áreas da sociedade, incluindo a religião. A IA não afeta apenas a forma em que tarefas humanas são realizadas, mas também a maneira em que aprendemos ou percebemos a realidade; como nos relacionamos com os outros, com nós mesmos e com Deus.

A IA não deve substituir a conexão humana e a orientação espiritual individual. Ela deve ser vista como uma ferramenta complementar e auxiliar, capaz de fornecer informações e insights, mas não como um substituto para a sabedoria e a empatia humanas.

Escopo do documento

O presente documento propõe estabelecer princípios éticos fundamentais, que representem a visão da Igreja Adventista do Sétimo Dia sobre o tema da inteligência artificial.

O documento não tem como finalidade especificar critérios para todas as formas de uso que a organização adventista venha a fazer. Será necessário que as entidades denominacionais adventistas criem diretrizes focadas em sua área de atuação, porém fundamentadas nos princípios expostos neste documento.

É sugerido que as áreas de educação, saúde, tecnologia, editoras, indústrias de alimentos, etc., estabeleçam comitês internos para definir critérios de como será o uso da IA na sua área de atuação.

Embora a IA generativa esteja recebendo maior atenção no momento da escrita deste documento, os princípios éticos apresentados podem ser aplicados a todas as suas áreas.

Framework ético

PrincípiosSinônimos
TransparênciaExplicabilidade, compreensibilidade, interpretabilidade, comunicação, divulgação, demonstração
Justiça e equidadeImparcialidade, equidade, consistência, inclusão, igualdade, (não) preconceito, (não) discriminação, diversidade, pluralidade, acessibilidade, reversibilidade, remédio, reparação, desafio, acesso e distribuição
ConfiabilidadeVeracidade
ResponsabilidadeAtuação com integridade
Segurança e privacidadeProteção e privacidade da informação
SustentabilidadeSustentabilidade, meio ambiente (natureza), recursos(energia)

Princípios éticos

1. Transparência

O uso de sistemas de IA por parte da Igreja precisa ser informado e entendido tanto por aqueles que os criam quanto por aqueles que fazem uso dessa tecnologia.

Princípio ético da transparência para o uso da inteligência artificial pela Igreja Adventista do Sétimo Dia:

A Igreja se compromete a ser transparente em relação ao uso da inteligência artificial em suas atividades. Isso inclui fornecer informações claras e acessíveis aos membros da comunidade adventista e a toda sociedade sobre as áreas em que a IA é aplicada, os objetivos pretendidos e os possíveis impactos no contexto religioso.

2. Justiça e equidade

A presença de viés em sistemas de IA pode resultar em discriminação e tratamento injusto ou desigual de indivíduos ou grupos com base em características protegidas, como raça, gênero, idade ou origem étnica. Isso pode ter implicações sérias em diversas áreas.

Os sistemas de IA devem ser compatíveis com a cosmovisão bíblico-adventista, garantir a equidade e evitar discriminação. Para isso, é recomendável que os algoritmos sejam desenvolvidos e treinados de maneira apropriada, levando em consideração princípios teológicos, éticos e legais para mitigar riscos de alucinação¹ evieses.

Princípio ético da justiça e equidade para o uso da inteligência artificial pela Igreja Adventista do Sétimo Dia:

  1. Promoção da justiça. A Igreja se compromete a utilizar a inteligência artificial de forma justa e a promover um ambiente mais equitativo por meio de todas as suas atividades. Isso implica assegurar que os sistemas de IA sejam projetados e utilizados demaneira a não perpetuar desigualdades sociais, discriminação ou exclusão.A Igreja se compromete a identificar e mitigar quaisquer vieses presentes nos algoritmos da IA que possam levar a decisões injustas ou tratamento desigual. Além disso, se esforça para garantir que todos os membros da comunidade adventista e da sociedade como um todo sejam tratados com equidade, independentemente de sua origem étnica, gênero, orientação sexual, status socioeconômico ou qualquer outra característica pessoal.
  2. Inclusão e acesso igualitário. A Igreja valoriza o princípio bíblico da dignidade humana, e busca garantir que o uso da IA esteja acessível a todos os membros da comunidade adventista. Isso inclui considerar as necessidades e capacidades de indivíduos com diferentes habilidades, assegurando que a tecnologia seja projetada de forma a superar barreiras e promover a participação plena e igualitária de todos. A Igreja está comprometida em fornecer recursos e oportunidades para que todos os membros se beneficiem do uso da IA, buscando eliminar quaisquer disparidades que possam surgir no acesso ou na utilização da tecnologia.
  3. Responsabilidade social. A Igreja reconhece sua responsabilidade social com o uso da IA. Adicionalmente, busca utilizar as ferramentas e os sistemas tecnológicos para promover ações humanitárias e ajudar a enfrentar desafios sociais relevantes para os adventistas. Isso pode incluir o uso da IA para melhorar a assistência aos necessitados, apromoção do desenvolvimento humano e a busca de soluções éticas para questões religiosas e sociais.A Igreja está aberta a receber feedback, opiniões e perspectivas da comunidade, bem como para colaborar com outros grupos e organizações em esforços conjuntos para promover a justiça e a equidade no uso da IA.

3. Confiabilidade

Os sistemas de IA precisam ter um uso confiável. A escolha das fontes de dados, portanto, deve passar por critérios bem específicos.

Princípio ético da confiabilidade para o uso da inteligência artificial pela Igreja Adventista do Sétimo Dia:

  1. Precisão e confiabilidade. A Igreja busca utilizar a inteligência artificial de maneira precisa e confiável em suas atividades. Isso implica adotar algoritmos e sistemas de IA que sejam tecnicamente sólidos e que produzam resultados mais consistentes e confiáveis. Além disso, busca verificar regularmente a eficácia e a precisão dos sistemas de IA em relação aos objetivos e os propósitos específicos da Igreja por meio de suas diferentes sedes administrativas, instituições e mesmo das congregações locais.
  2. Manutenção da integridade doutrinária. A Igreja valoriza a manutenção da integridade doutrinária em todas as suas atividades, incluindo o uso da IA. Isso implica em garantir que a IA seja utilizada de acordo com os princípios e as crenças adventistas estabelecidos. A Igreja se compromete a evitar distorções doutrinárias ou interpretações equivocadas dos princípios defendidos pela organização resultantes do uso da IA. Ela busca garantir que as decisões e as recomendações influenciadas pela IA estejam alinhadas com a teologia adventista, preservando a fidelidade aos ensinamentos e valores da Igreja.

4. Responsabilidade

Os desenvolvedores e os provedores de sistemas de IA têm a responsabilidade de garantir que os sistemas sejam projetados e implementados de maneira ética, segura e responsável. Isso envolve considerar as implicações sociais, legais e éticas dos sistemas de IA em todas as etapas do processo.

Princípio ético da responsabilidade para o uso da inteligência artificial pela Igreja Adventista do Sétimo Dia:

  1. Responsabilidade pelos resultados. A Igreja assume a responsabilidade pelos resultados e impactos do uso da inteligência artificial em suas atividades. Isso implica empenhar-se em utilizar essa tecnologia de maneira ética e alinhada com os princípios adventistas, prevendo, inclusive, sanções a quem desrespeitar esse tipo de diretriz.
  2. Mitigação de vieses e discriminação. A Igreja está empenhada em garantir que o uso da IA seja livre de vieses e discriminação. Isso significa adotar medidas adequadas para identificar, corrigir e prevenir qualquer tipo de discriminação, procedimentos antiéticos ou que firam a legislação de proteção de direitos dos países do território da DSA em que a Igreja tenha atuação. Além disso, a Igreja adota medidas para evitar tratamento desigual, constrangedor ou humilhante para qualquer pessoa, que possa surgir devido ao uso dos sistemas de IA.
  3. Supervisão humana e tomada de decisão.A Igreja valoriza a supervisão humana no uso da IA. Embora a IA forneça possibilidades valiosas para o desenvolvimento das atividades humanas, a Igreja reconhece a importância de contar com pessoas competentes envolvidos nos diferentes processos de tomada de decisão.

A Igreja assegura que a IA seja utilizada como uma ferramenta para auxiliar nas decisões, mas a validação final deve passar por uma análise feita por indivíduos com base em princípios éticos e valores adventistas, levando em consideração o discernimento espiritual e a sabedoria humana.

A Igreja está aberta a receber feedback e críticas construtivas da comunidade adventista, estabelecendo canais para receber tais sugestões a fim de melhorar suas práticas e, ao mesmo tempo, garantir que o uso da IA esteja alinhado com os valores e os princípios adventistas.

5. Segurança e privacidade

Os sistemas de IA devem ser seguros e respeitar a privacidade dos usuários. A coleta e o uso de dados pessoais são essenciais para muitos sistemas de IA. No entanto, garantir a privacidade dos dados é crucial para proteger os direitos individuais e evitar abusos.

Princípio ético da segurança e da privacidade para o uso da inteligência artificial pela Igreja Adventista do Sétimo Dia:

  1. Proteção de dados. A Igreja está comprometida em proteger a segurança e a privacida de dos dados pessoais coletados e utilizados no âmbito da IA. A Igreja adota medidas técnicas, organizacionais e legais adequadas para garantir a confidencialidade, a integridade e a disponibilidade dessas informações.
  2. Consentimento informado. A Igreja busca obter o consentimento informado dos indivíduos antes de coletar, processar ou utilizar seus dados pessoais para fins relacionados à IA. Isso inclui fornecer informações claras e transparentes sobre como esses dados serão utilizados, as finalidades do processamento e os direitos dos indivíduos em relação aos seus dados.
  3. Segurança da informação. A Igreja implementa medidas de segurança apropriadas para proteger os dados pessoais contra acesso não autorizado, uso indevido, divulgação, alteração ou destruição. Isso envolve o uso de tecnologias de segurança, políticas de acesso restrito, criptografia e ações para prevenir ameaças cibernéticas.
  4. Retenção e exclusão de dados. A Igreja adota políticas claras sobre a retenção de dados pessoais coletados para fins relacionados à IA. Os dados são mantidos apenas pelo tempo necessário para cumprir os propósitos específicos do uso da IA e, depois, excluídos de forma segura quando não são mais necessários, de acordo com as leis de proteção de dados aplicáveis.
  5. Transparência sobre uso de dados. A Igreja se esforça para ser transparente em relação às suas práticas de coleta, processamento e uso de dados pessoais na utilização da IA. Isso inclui fornecer informação clara sobre as políticas de privacidade, os direitos dos indivíduos em relação aos seus dados e como os dados são compartilhados, se aplicável.
  6. Responsabilidade na terceirização. Caso a Igreja contrate terceiros para fornecer serviços relacionados à IA, ela se compromete a selecionar parceiros confiáveis que também adotem medidas adequadas de segurança e privacidade de dados. A Igreja estabeleceacordos e contratos que garantam a conformidade com os princípios éticos e legais de segurança e privacidade de dados.

6. Sustentabilidade

A criação e a capacitação em sistemas de IA demandam o uso massivo de recursos computacionais. É importante que a organização se comprometa a fazer uso das melhores metodologias e práticas para evitar o desperdício de energia e reduzir a poluição ambiental.

Princípio ético da sustentabilidade para o uso da inteligência artificial pela Igreja Adventista do Sétimo Dia:

  1. Responsabilidade ambiental. A Igreja assume a responsabilidade de utilizar a inteligência artificial de maneira sustentável, levando em consideração os impactos ambientais de suas atividades relacionadas à IA. A Igreja busca minimizar a pegada de carbono (medida de emissão de carbono na atmosfera) e adotar práticas que promovam a preservação e a proteção do meio ambiente.
  2. Eficiência energética. Igreja busca utilizar a IA com eficiência em termos energéticos, otimizando o consumo dos sistemas e infraestruturas relacionados. Isso pode incluir a escolha de hardware e equipamentos com baixo consumo de energia, bem como a implementação de algoritmos e técnicas que reduzam a demanda energética da IA.
  3. Redução do desperdício de recursos. A Igreja está empenhada na redução do desperdício de recursos decorrentes do uso da IA. Isso envolve adotar práticas de gerenciamento de dados eficientes, evitando a coleta excessiva ou desnecessária de informações, e aperfeiçoando os processos de armazenamento e processamento de dados para minimizar o uso desses recursos.
  4. Conscientização e educação. A Igreja promove a conscientização e a educação sobre a importância da sustentabilidade no uso da IA entre seus membros e sua comunidade. Isso pode ser feito por meio de iniciativas de conscientização como palestras, treinamentose elaboração de materiais educacionais que destaquem a importância de aspectos ambientais no desenvolvimento e o uso da IA.
  5. Colaboração para a sustentabilidade. A Igreja colabora com outras organizações e instituições comprometidas com a sustentabilidade no contexto da IA. A Igreja busca parcerias com especialistas em sustentabilidade e aumenta sua participação em iniciativasconjuntas para desenvolver melhores práticas e diretrizes que promovam a sustentabilidade no uso da IA.

Conclusão

A Igreja Adventista do Sétimo Dia se compromete, com tal documento, a continuar pesquisando sobre novas tecnologias que venham a ser úteis à pregação do evangelho. Ao mesmo tempo, reconhece que há desafios éticos que devem ser observados por cada entidade denominacional, líder e membro voluntário.

A Igreja, por isso, compreende que as questões relacionadas à criação e o uso das IAs precisam ser conduzidas de maneira equilibrada, destacando o potencial da tecnologia, mas enfatizando o papel estratégico do ser humano como agente soberano nas decisões finais e a importância de um comportamento pautado na ética cristã adventista, tendo sempre como foco o cumprimento da missão da Igreja.

Documento votado em 6 de novembro no Concílio Anual da Divisão Sul-Americana da Igreja Adventista do Sétimo Dia.

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Sempre que necessário e geralmente por ocasião de sua assembleia anual, a Igreja Adventista do Sétimo Dia vota documentos que contêm declarações oficiais da organização a respeito de temas relevantes no mundo e no âmbito mais interno da organização.